O Pequeno Príncipe (3/27)

Tradução de “Le Petit Prince”, de Antoine de Saint-Exupéry

Abreu Ferreira
2 min readFeb 16, 2019

CAPÍTULO III

Levei bastante tempo para saber de onde ele vinha. O pequeno príncipe, que me fazia várias perguntas, parecia nunca entender as minhas. Foi de palavras ditas ao acaso que, pouco a pouco, ele me revelou tudo. Assim, quando ele viu pela primeira vez meu avião (eu não desenharei meu avião, é um desenho complicado demais para mim), ele me perguntou:

– Que que é aquela coisa ali?

– Não é uma coisa. Ele voa. É um avião. É o meu avião.

E fiquei orgulhoso de lhe contar que eu voava. Então ele exclamou:

– Quê! você caiu do céu?

–Sim, eu disse modestamente.

– Há! Que engraçado…

E o pequeno príncipe deu uma bela gargalhada que me irritou bastante. Eu queria que ele levasse meus problemas a sério. Então ele acrescentou:

– Então você também vem do céu! De que planeta você é?

Eu tive imediatamente um lampejo, no mistério de sua presença, e perguntei bruscamente:

– Quer dizer que você vem de outro planeta?

Mas ele não respondeu. Assentiu suavemente a cabeça enquanto olhava meu avião:

– A bem da verdade, com isso aí você não poderia ter vindo de muito longe…

E ele mergulhou em uma introspecção que durou um bom tempo. Então,tirando minha ovelha do bolso, se pôs a contemplar seu tesouro.

Você deve imaginar como eu fiquei intrigado por essa semiconfissão sobre “os outros planetas”. Tentei descobrir mais:

– De onde você vem, meu pequeno camarada? Onde fica sua casa? Onde você vai deixar minha ovelha?

Ele me respondeu após um silêncio meditativo:

– O bom da caixa que você me deu é que, à noite, vai servi-la de casa.

– Bem pensado. E, se você for gentil, lhe desenharei uma corda para deixá-la presa durante o dia. E uma estaca.

A proposta pareceu chocar o pequeno príncipe:

– Prendê-la? Que ideia esquisita!

– Mas se você não a prender, ela vai fugir, e acabar se perdendo…

E meu amigo deu uma nova risada:

– Mas aonde você quer que ela vá?

– Não importa aonde. Vai por aí, andando sempre para frente.

Então o pequeno príncipe disse seriamente:

– Não faz mal, é tão pequeno onde eu moro!

E, com um pouco de melancolia, talvez, ele acrescentou:

– Andando só para frente, não se pode chegar muito longe…

--

--